Obituário – Dr. Adelmaro Cavalcanti Cunha Júnior, Ex-presidente do Sinmed RN no período de 1998-2001

19/06/2020

Obituário – Dr. Adelmaro Cavalcanti Cunha Júnior, Ex-presidente do Sinmed RN no período de 1998-2001

19/06/2020

Obituário – Dr. Adelmaro Cavalcanti Cunha Júnior, Ex-presidente do Sinmed RN no período de 1998-2001

OBITUÁRIO 

Dr. Adelmaro Cavalcanti Cunha Júnior, Ex-presidente do SinmedRN, período 1998-2001.

20 de setembro de 1957 

18 de junho de 2020

No dia 18 de junho, vítima de Covid-19, faleceu Dr. Adelmaro Cavalcanti Cunha Júnior.  Médico pela UFRN, Anestesiologista especializado no Rio de Janeiro, humanista, figura estimada e querida por todos, exerceu sua vida profissional em Natal, sempre engajado nas lutas da categoria médica e sintonizado com as causas da saúde e da política de seu tempo. Foi líder estudantil, presidiu a Sociedade de Anestesia do Estado, presidiu a Associação dos funcionários da Fundação Walfredo Gurgel, presidiu o Sindicato Médico do Rio Grande do Norte, foi Secretário Estadual de Saúde, também disputou algumas eleições partidárias, para vereador e vice-prefeito.

Sua marca era o sorriso de alegria e o ambiente animadamente festivo que criava onde estivesse.
Herdou de seu pai, Dr. Adelmaro Cavalcanti, ele Obstetra, o nome, o humanismo, a doçura e o gosto pela Obstetrícia, que Adelmaro Júnior serviu como Anestesista por toda sua vida profissional.

Trabalhou nos hospitais públicos como Walfredo Gurgel e Maternidade Januário Cicco, e privados como Femina e Pró-Máter de Natal, foi grande na profissão, e num desses hospitais maternidade, onde ajudou à chegada de tantas vidas, encontrou seu leito de morte. O lugar em que participou de tantos momentos de chegadas alegres, assistiu apagar-se com sua partida, o sorriso brincalhão, prazenteiro, agradável, acolhedor e amável.

O centro cirúrgico era por excelência sua arena, seu palco e nele Adelmaro flutuava derramando generosidade, simpatia e sorrisos. Quase não há fotos onde não transborde sua alegria e seu riso aberto.
A magia emanava de suas mãos, aliviando medos, estancando dores. Muitos de nossa geração viram através de sua face alegre a notícia da chegada de um filho ou de um neto. Tempo estranho esse ano de 2020, tempo de tragédias, veio o vírus, e a morte distante passou a circundar a nossa volta, invadindo a nossa vizinhança e nossos lares.

Nós médicos, colocados na posição de soldados numa guerra, podemos sentir como Manuel Bandeira em versos – ouço a morte chamar-me e esse chamado me aterra. Mas somos soldados cuidando dos outros, essa é nossa missão, nossa luta, nossa guerra.

Sabendo a gravidade da doença e a ameaça sobre os grupos de maior risco, não sei se Adelmaro teve medo. Talvez não, com seu otimismo talvez visse aquilo como um desafio que seria superado.

Mas não foi assim, agravou-se, precisou ir para UTI, precisou ser entubado, mas as notícias que chegavam eram sempre animadoras, estava se recuperando e já se pensava em cura da doença.  Mas aí as mãos de vírus e do destino se entrelaçam e de súbito num golpe a jornada se complica, febre, hipóxia, choque, a vida fraqueja e chega ao fim.

Fico pensando como num filme, aqueles gestos tantas vezes repetidos com sucesso pelos anestesistas, desligar os gases, manter o oxigênio, retirar o tubo, despertar o paciente, ouvir muitas vezes deles que pareciam estar sonhando. Depois que vão para a recuperação, revisa-se os equipamentos, confere-se o oxigênio já desligado, apaga-se o foco e enfim missão cumprida.

Não foi assim com você neste capítulo final, imagino dolorosamente a vida fugindo como o foco que se apaga, o oxigênio que não chega ao corpo, como um fluxômetro desligado, e o zerar de eletrocardioscópio a apontar que tudo terminou.

Os médicos tem corrido imensos riscos nessa pandemia, mas como os nautas que enfrentavam ondas magníficas e tormentas assombrosas, mesmo ante o risco de nos infectarmos, o terror de olhar nos olhos a possibilidade da morte, o pavor de sermos levados antes do que sonhávamos, e o medo do desconhecido que vamos penetrar, temos a nos mover, no fundo do coração, a velha mensagem dos gregos, repetida pelo infante D. Henrique na Escola de Sagre -Navegar é preciso.

Sim, somos soldados na guerra contra o vírus, cabe-nos lutar. Observando tantas fotos com roupa de centro cirúrgico e todas elas com Adelmaro invariavelmente sorrindo, fico a imaginar que ele na sua vida foi abençoado e feliz. Ulisses Guimarães no discurso de encerramento da constituinte de 1988 citou uma frase que vale agora como legado ou herança do que foi Adelmaro para a posteridade – o segredo da felicidade consiste em fazer do seu dever o seu prazer.

No juramento de Hipócrates,quando nos formamos, lemos: a vida é breve, a arte é vasta. O mister de Adelmaro de por magia da ciência médica aliviar angústias, ansiedades, medos e dores ficam como recordação de sua passagem no mundo. O Sindicato Médico guardará profunda gratidão por todo bem que Adelmaro fez como médico e por suas lutas pela medicina e pela saúde do povo, como associado e presidente de nossa instituição. Descanse em paz.

Geraldo Ferreira – Presidente do Sinmed RN

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