O Dom de Iludir – Artigo de Geraldo Ferreira

15/03/2017

O Dom de Iludir – Artigo de Geraldo Ferreira

15/03/2017

O Dom de Iludir – Artigo de Geraldo Ferreira

Manuel Castells, em O Poder da Comunicação, onde estuda as várias redes interligadas de mídia, política, financeira e cultural, diferencia o poder em rede do poder da rede e do poder sobre a rede, que é a capacidade de impor agenda, gerenciamento e tomada de decisões. Ryan Holiday, em Acredite, Estou Mentindo, descrito pelo Financial Times como um livro espantoso e perturbador, faz uma avaliação das mídias atuais, em sua forma de produzir, agir e ganhar dinheiro. Mostra também a vulnerabilidade do sistema, formado por necessidades prementes de escrever simples, rápido, sem ouvir fontes e sem pesquisar, que o torna passível de manipulação, embora a regra sejam forças dominantes do meio cultural se apropriarem dele sem pudor para doutrinar, seduzir e persuadir. Três assuntos atraem e afetam as pessoas, comportamento, crenças e pertences. Uma notícia tem impacto se tiver valência, grau de emoção positiva ou negativa desencadeado. Vários fenômenos têm acompanhado esses tempos, a política do escândalo, uso de fontes anônimas, especulação de uma matéria ultrajante como base e verdade para outra. Os artigos buscam criar sensações, assim só se ouve ou se vê o que se quer, e as matérias se tornam, não apenas descuidadas, mas propositadamente distorcidas. A militância em ambientes virtuais, formada por grupos ativistas ou partidários podem desencadear ataques organizados, e em larga escala, devastadores para pessoas ou empresas, em verdadeiras cerimônias de degradação pública. Quando toda notícia é de segunda mão, quando todo testemunho é incerto, as pessoas param de responder às verdades e respondem simplesmente a opiniões, o ambiente não é mais o da realidade, mas o pseudoambiente de relatos, boatos e suposições, toda referência de pensamento vem a ser o que alguém afirma não o que realmente é, a ficção passa como realidade, todo mundo está vendendo e enganando. Roger Scruton cita a imposição de agendas na mídia e na sociedade, por grupos de pressão, através do argumento de transferência, onde a situação atual precisa ser justificada como melhor que a nova situação nunca testada ou impossível de ser testada, outros mecanismos são opiniões de especialistas inventados, culpa transferida, boicote de inimigos que tem que ser eliminados, teorias absurdas e disparates ilógicos que confundem a capacidade de ver a verdade. Scruton conclui, citando Platão, A verdade é o negócio da filosofia, porém é a retórica, não a filosofia que agita a multidão.

 

*Artigo de Geraldo Ferreira, presidente do Sinmed RN, publicado no Novo Jornal, dia 15/03/2017.

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