ARTIGO: Redes de vigilância, censura e imposição comportamental

02/06/2021

ARTIGO: Redes de vigilância, censura e imposição comportamental

02/06/2021

ARTIGO: Redes de vigilância, censura e imposição comportamental

Os gigantes do capitalismo, as redes de informação e interação, grandes empresas de informática e mídias digitais tem agido cada vez mais conforme a cartilha do totalitarismo, deixando atônitos os que leram sua ascensão como um triunfo da liberdade. Em 1952, Niebuhr, um teólogo protestante, marxista cristão no início de sua juventude, alertava que tanto o liberalismo quanto o totalitarismo soviético encontravam sua herança na mesma fonte. E os liberais, embora atacassem o credo materialista do comunismo, tinham ao cabo a concepção de seus objetivos reduzida também ao materialismo. O capitalismo evolui em resposta às necessidades das pessoas, para Henry Ford “a produção em massa começa na percepção da necessidade do público”. O mercado dependia da comunidade, o que gerava uma rede de reciprocidades institucionalizadas, e os bens e serviços estavam de alguma forma ligados a clientes e trabalhadores, com alguma proteção aos direitos e segurança dos dois. Shoshana Zuboff em A Era do Capitalismo de Vigilância faz um detalhado estudo da arquitetura de mudança comportamental que impacta a humanidade de forma radical, com a mesma força com que o capitalismo industrial mudou o mundo do século XX. As empresas de informação e mídias digitais apostam em mercados futuros comportamentais, em que predições sobre nossas ações e condutas são negociadas e a produção é subordinada a novas formas de modificação de comportamento. A primeira modernidade, calcada nos direitos individuais invioláveis, tinha como orientador o foco em favor de soluções coletivas. O surgimento da segunda modernidade trouxe o eu para o centro de tudo, e no dizer de Shoshana, criam-se as condições para uma revisão dos paradigmas de “família, religião, sexo, gênero, moralidade, casamento, comunidade, amor, natureza, relações sociais, participação política, carreira, alimentação”. Essa nova mentalidade trouxe a internet e o aparato de informação para a vida cotidiana. E na batalha da economia e da política no mundo atual não passamos de números. Há uma nova e ameaçadora modernidade em curso, diferente do mundo prometido de fusão entre capitalismo e mundo digital, onde se poderia ter liberdade infinita, sendo as aspirações individuais determinantes para o quê, quem, quando e como as pessoas desejariam buscar ou se conectar. A audácia das empresas em captar como suas as informações dos usuários, transformando essas informações em dados para gerar propaganda e lucro traz perturbação e dúvidas. A mídia, as redes de informação e interação, a coleta infinita de dados, parecem encaminhar o mundo para uma aterrorizante sociedade instrumentária. A agregação de bilhões de pequenas transações individuais é o que gera o comportamento social, segundo Pentland, em Social Physic. Assim, uma sociedade instrumentária aparelharia e mensuraria o comportamento humano com fins de modificação e controle, já que a aprendizagem social “pode ser moldada e acelerada pela pressão social”. Shoshana Zuboff aponta que a sociedade instrumentária é um mundo às avessas no qual tudo que temos prezado até hoje é virado de cabeça para baixo, trazendo a morte da individualidade, e a produção de obediência e conformidade. A vigilância, o monitoramento, a moldagem do comportamento, a sufocação da interioridade do indivíduo, objetiva a criação de uma colmeia em que “as pessoas vão com o fluxo, permanecem com a manada ou voam com o bando”. Esse mundo é totalitário e contrário a tudo de humano e sagrado que marcam a civilização ocidental, sua diversidade, beleza, riqueza, liberdade e democracia. Ainda assim, os gigantes ocidentais da mídia, da informática, das redes do mundo digital lutam para sua implementação. Isso porque, segundo Shoshana, “a sociedade instrumentária caminha de acordo com os interesses dos donos dos meios de modificação comportamental e dos clientes cujos resultados garantidos eles buscam conseguir. O bem maior é de alguém, mas pode não ser o nosso”.

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