Artigo: A liberdade ameaçada pelo autoritarismo identitário

21/10/2021

Artigo: A liberdade ameaçada pelo autoritarismo identitário

21/10/2021

Artigo: A liberdade ameaçada pelo autoritarismo identitário

A Teoria pós-moderna e sua obsessão por raça, gênero, sexo e identidade está em tensão com o liberalismo e a liberdade, chocando-se e dissentindo em quase tudo. Se para um o conhecimento é algo a se apreender da realidade, a Teoria o vê como completamente criado. Enquanto o liberalismo, em nome da liberdade preza os valores humanos individuais e universais, a Teoria rejeita ambos em favor da Identidade grupal e da política identitária. A luta pela dignidade humana é substituída pela vitimização, a verdade pela ambiguidade, a tolerância pela intransigência, a liberdade de pensamento e opinião pela censura. O liberalismo, dizem Helen e James em Teorias Cínicas, é “um sistema de resolução de conflitos, e não uma solução para os conflitos humanos.” A liberdade de expressão é um direito humano universal, todo ser humano deve ter o direito de se expressar sem censura ou punição. Governos, Empresas, Universidades ou mesmo cidadãos autoproclamados guardiões da virtude pública não podem, nem devem arvorar-se de considerar a liberdade de debate como contraproducente. A sociedade liberal e democrática tem seus pilares na liberdade individual, igualdade de oportunidades, debate livre e aberto, liberdade de expressão e humanismo, para Fawcett os temas do liberalismo são “aceitação do conflito, resistência ao poder, fé no progresso e respeito às pessoas”. Quando a política identitária e o politicamente correto negam todos os avanços desde 1960 nos direitos das mulheres, na condenação da discriminação racial ou de gênero, a única explicação possível é seu niilismo e desespero. O mundo exterior deve ser apreendido como realidade, para que as afirmações sobre ele possam ser verdadeiras, o debate é livre, ninguém tem a palavra final e ninguém tem autoridade pessoal. O Autoritarismo pós-moderno se monta em princípios fundamentalistas, onde o conhecimento sempre surge vinculado à identidade, opressão é vista em cada interação, cada faceta da vida é politizada e os princípios éticos nunca devem ser aplicados por igual, mas sempre de acordo com a identidade. Não se admite a verificação das ideias por críticas públicas que possam legitimar quem tem razão. Rice Brooksfield, em Deus Não Está Morto, diz “ignorar a realidade conduz à inutilidade”. A censura absurda que se ampara na política identitária e no politicamente correto leva a divisões sociais, à perda da capacidade das pessoas falarem umas com as outras ou compartilharem meios de solucionar diferenças de opinião, cada um sustenta sua verdade, as dúvidas são resolvidas dentro das seitas ou bolhas ideológicas que os albergam. Toda uma indústria de justiça social, que movimenta bilhões, está se formando para promulgar e policiar o que dentro dessa linha é A Verdade. Um dos centros cruciais da produção do conhecimento são as Universidades, elas transmitem informação e cultura, Helen e James dizem que “trabalhando de forma correta as universidades são inestimáveis. Trabalhando de forma incorreta, são meios de doutrinação cultural prejudicial inigualáveis”. O ativismo na forma de cancelamentos, perseguições, assédio, pedidos de demissão, supõe que o preconceito está em toda parte e deve ser caçado implacavelmente, exposto e expurgado. Numa cultura de mimos e vitimização está cada vez mais difícil as pessoas lidarem com ideias difíceis e sentimentos feridos, elas então embarcam, como dizem Helen e James, em três inverdades “de que as pessoas são frágeis, que o raciocínio emocional é sempre confiável e que a vida é uma guerra de nós contra eles”. Cada viés desse tem consequências, a ideia de fragilidade forma os contingentes de oprimidos e marginalizados, a de sentimentos rejeita a objetividade em nome de vivências e a do nós contra eles como uma luta do bem contra o mal. Em Engajamento Cultural, Joshua e Karen dizem que um problema do nosso tempo é “que não acreditamos mais em um propósito essencial, ou telos, para a existência humana”. Vivemos a época onde a cultura da vitimização substituiu totalmente as culturas da dignidade e da honra.

 

Dr. Geraldo Ferreira – Médico e Presidente do Sinmed RN

Artigo publicado no Agora Jornal dia 21 de outubro de 2021

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