Arte e Moral – Artigo publicado no Novo Jornal

28/12/2016

Arte e Moral – Artigo publicado no Novo Jornal

28/12/2016

Arte e Moral – Artigo publicado no Novo Jornal

Padre O’Malley, citado por Gregory Wolfe, fala das quatro culturas do ocidente, a Cultura Profética, que reflete sobre o bem e o mal, a Cultura Acadêmica profissional, com filósofos e cientistas em busca da verdade, a Cultura humanística, formada pelos humanistas, retóricos e estadistas, e a Cultura Artística, formada por pintores, escultores e intérpretes, que buscam a beleza. Rodrigo Gurgel, no prefácio de A Beleza Salvará O Mundo, dá o conceito de Dom Javier Martínez sobre cultura como o modo como os homens compreendem, vivem, articulam e expressam sua experiência e a compreensão que têm da realidade e de sua própria relação com a realidade. Uma cultura é sempre uma tradição, e uma tradição se expressa sempre culturalmente. Elisabete Kantor, em seu livro Guia politicamente incorreto da literatura, mostra o modernismo jogando contra a tradição e as convenções, liderado por compositores, pintores, arquitetos e literatos, que abandonaram regras, cânones, ferramentas básicas, infestados pelo desprezo à beleza, às habilidades artísticas e ao público. Pelos resultados confusos, Cordélia e Charles, em Memórias de Brideshead, desabafam, A Arte Moderna é uma bobagem. Toda arte é um ato de criação, diz Benjamin Wiker, traz consigo a responsabilidade moral, sendo verdadeira deverá revelar não só o domínio técnico, mas sabedoria, bondade e força dramática. Marlowe e Shakespeare foram contemporâneos, Marlowe era 2 meses mais velho . São dois clássicos de extrema beleza, mas refletem posições diversas em relação ao mundo. Segundo Kantor, Marlowe estava interessado em rebeliões, forçar a barra, ultrapassar limites. Seus anti-heróis desafiam Deus e o homem em busca de um objetivo ou paixão irrealizável. Já Shakespeare aborda a natureza humana, o que faz com que as coisas e as pessoas sejam o que de fato são. Não há ideologia em sua obra, ele observa a vida humana e isso o fascina. Na sua época a moralidade e os limites da natureza humana eram levados a sério, não eram vistos como construções sociais. Ganância, luxúria, violência, inveja, traição, tinham morada no coração, fazem parte do ser humano, por isso suas obras são universais. Shakespeare foi maior, mas Marlowe fez uma arte também grandiosa. Em Doutor Fausto, de Marlowe, no diálogo onde Lúcifer fala da perda do paraíso por parte dos demônios, Fausto diz “Creio que o inferno seja uma fábula”, ao que é respondido irônica e melancolicamente: “Sim, pense dessa forma, até que a experiência o faça mudar de opinião”.

 

*Artigo de Geraldo Ferreira, presidente do Sinmed RN, publicado no Novo Jornal, dia 28/12/2016.

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