Servidores da Saúde da rede estadual e rede municipal devem cruzar os braços durante todo o dia de hoje. A paralisação de advertência é um protesto de toda a categoria envolvida com a saúde pública do Rio Grande do Norte contra o que os sindicatos do setor chamam de “caos”, “desmando”, “desmonte” e “abandono” nas unidades espalhadas pelos 167 municípios potiguares.

O Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Norte (Sinmed) realizou em sua sede ontem, em parceria com outros entes sindicais do estado, uma coletiva de imprensa para expor a situação. Eles denunciam que, além da crônica falta de insumos, remédios e vagas em leitos de UTI nas unidades hospitalares, nos últimos meses a situação tem se agravado com a falta de segurança, de alimentação para servidores e acompanhantes, atraso nos pagamentos e o lixo acumulado nas unidades devido à greve da empresa que recolhe os resíduos nos hospitais do estado.

“Já tivemos crises profundas, mas chegamos a um momento que se não formos às ruas, a população não vai entender o que se passa. Nunca vi falência tão grande e não se salva ninguém: nem governo, nem municípios, nem os hospitais federais. É uma crise de desassistência absoluta”, destacou o presidente do Sinmed, Geraldo Ferreira.

Como primeiro protesto unificado entre os sindicatos envolvidos com a saúde, por volta das 9h de hoje os servidores vão se reunir em frente à Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap), na Avenida Deodoro da Fonseca, e seguir em caminhada até o Palácio Felipe Camarão, sede da Prefeitura de Natal, localizado na Rua Ulisses Caldas. Durante todo o dia, apenas 30% dos serviços vão funcionar nas unidades.

Ainda ontem os sindicalistas realizaram um dos primeiros atos para denunciar a situação. Juntos, o Sinmed, Sindicato dos Odontologistas do RN (Soern); Sindicado de Enfermagem, Técnicos Duchistas, Massagistas e Empregados em Clinicas e Casas de Saúde do Estado do Rio Grande do Norte (Sipern); Sindicato dos Servidores da Saúde do RN (Sindsaúde), e outros entes, assinaram documentos endereçados à Câmara dos Deputados e Senado.

Os relatórios que revelam o cenário de “caos” foram produzidos pelos sindicalistas e enviados às Comissões de Direitos Humanos das duas Casas federais com um pedido de visita ao estado. “É uma questão de direitos humanos. Em hospitais, as pessoas ficam em meio à falta de higiene, sem alimentação, a mercê”, comentou Geraldo Ferreira.

Além disso, o presidente do Sinmed avisa que vai esperar 30 dias para que o Governo do Estado e os municípios encaminhem planos de contingenciamento da crise que atinge o setor. Se nada for apresentado após esse período, os entes sindicalistas estudam pedir até ajuda federal para uma intervenção do Ministério da Saúde no Rio Grande do Norte.

“Estamos vivendo um desmonte progressivo da saúde pública. Faltam medicamentos básicos, inclusive em UTIs, falta alimentação em muitas unidades”, destacou a diretora geral do Sindsaúde, Simone Dutra.

O presidente do Sipern, Domingos Ferreira, classificou a situação como “gritante”. Segundo ele, por atraso de pagamento faltam trabalhadores responsáveis pela higiene em unidades como o Hospital Giselda Trigueiro, Hemonorte, Laboratório Central de Saúde Pública do RN (Lacen) e o Centro de Reabilitação Infantil (CRI).

Já o presidente do Soern, Ivan Tavares, denunciou a situação no Hospital Walfredo Gurgel, hoje sem segurança interna devido a problemas de pagamento para a empresa responsável. “No maior hospital do estado, a insegurança é total”, ressaltou, também afirmando ser contra a terceirização cada vez maior dentro das unidades de saúde potiguares.

Governo e prefeitura rebatem sindicatos

O secretário estadual da Saúde Pública do Rio Grande do Norte, George Antunes, disse ontem, por meio de sua assessoria, que compreende e aceita com naturalidade a preocupação dos servidores da área da saúde, incluindo os médicos, com relação aos problemas que vêm sendo enfrentados pela Sesap.

Recém nomeado para a titularidade da pasta que já exerceu em governos anteriores, George Antunes ressaltou, no entanto, que está empenhado e trabalhando, junto com o governo, em solucionar todos os problemas.

Para isso, afirmou o secretário, a Secretaria de Planejamento, iniciou ontem (01) a programação de pagamentos, incluindo a Sesap, e dentro desse contexto ele aguarda agendar uma reunião com o secretário de Planejamento para tratar dos problemas financeiros da sua pasta

A Secretaria Municipal de Saúde, por meio de sua assessoria de imprensa, nega que haja caos em suas unidades. A pasta até admitiu que há atraso nos repasses aos prestadores de serviço ao município, mas justificou que na verdade os problemas seriam fruto de uma dívida de mais de R$ 50 milhões do Estado referentes ao Samu, à Unidade de Pronto Atendimento (UPA), à Atenção Básica, à Farmácia Básica e ao Termo de Cooperação entre Entes Públicos (TCEP).

A SMS também afirmou que, em relação à segurança das unidades de saúde, com a ajuda da Secretaria Municipal de Defesa Social (Semdes) irá lançar as Rondas Ostensivas de Apoio à Saúde Pública (ROSP), que terá o objetivo de garantir a segurança dentro das unidades municipais.