Cícero, Moral e Ética – artigo publicado no Novo Jornal

27/06/2017

Cícero, Moral e Ética – artigo publicado no Novo Jornal

27/06/2017

Cícero, Moral e Ética – artigo publicado no Novo Jornal

 

Charles Norris Cochrane, em Cristianismo e Cultura Clássica, diz que Cícero negava Crasso e César, para quem o medo e o interesse eram as únicas forças motivadoras da vida humana, como modelos de filosofia de poder. Em De Officiis, Cícero desenvolve seu pensamento social. A vida envolve obrigações para consigo e os demais, em cujo cumprimento o homem realiza as potencialidades de seu ser. Essas obrigações são ditadas pelas exigências da retidão, do ideal moral absoluto, e as impostas pelas exigências da conveniência ou utilidade, que se reportam ao embelezamento da vida, bem como à provisão de meios e recursos vantajosos para a humanidade. Problemas surgem quando as exigências de retidão se chocam com as de utilidade. Os impulsos e apetites fundamentais da humanidade são a ânsia de autopreservação, que faz buscar o que é útil e evitar o que é prejudicial à existência, a inclinação ao relacionamento social, que faz identificar sua vida com a de seu próximo, a busca e investigação da verdade, a paixão por proeminência ou distinção, que leva a aspiração de conhecimento e poder, ao mesmo tempo que determina limites de autoridade e subordinação, e o amor pela ordem, senso de beleza, harmonia e do que é adequado. Cícero propõe-se a erguer um esquema de ética, sendo quatro ideais correspondentes às quatro virtudes cardeais, Sabedoria, Justiça, Coragem ou Altivez e Temperança ou moderação e decoro. A busca da excelência individual deve ser sempre subordinada à necessidade de manter a segurança e o bem-estar da comunidade. Cícero afirma a superioridade da Justiça sobre a sabedoria que tem valor se aplicada aos fins práticos da vida e proveito da humanidade, a Justiça existe para os propósitos de reparar danos e fazer valer direitos, incluído o fundamental de propriedade, e uma determinação de fazer com que cada um receba o que lhe é devido. A Coragem ou Fortidão costuma se acompanhar de amor pelo poder e impaciência de controle, que podem gerar injustiças, mas para Cícero ela é mais uma virtude moral e intelectual do que física, que coloca o estadista na defesa do bem dos governados, sem temores e hesitações. A Temperança prescreve decoro e comportamento compatível com a dignidade humana, a posição é acompanhada de obrigações e deveres. O princípio de utilidade não é independente, não há como dissociar o conceito de utilidade do de retidão. Não pode haver nenhuma autêntica utilidade que não se conforme às exigências do ideal moral.

 *Artigo de Geraldo Ferreira publicado no Novo Jornal dia 28/06/2017

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