ARTIGO: A agonia da ética num mundo sem deveres

26/05/2021

ARTIGO: A agonia da ética num mundo sem deveres

26/05/2021

ARTIGO: A agonia da ética num mundo sem deveres

 

João Paulo II, no ano 2.000, 5° ano da encíclica Evangelium Vitae, advertiu que os pontos ali tocados, os ultrajes à família e à vida humana, eram indicações não só para um renascimento moral, mas pontos de referência para a salvação civil, isto referenciado ao que a igreja deveria exigir da sociedade, um ordenamento que defenda valores que estão entranhados na própria natureza humana. Bento XVI falava sobre princípios inegociáveis, insistindo nos mesmos pontos, lei natural, ordem natural. Temos então na Ética um conjunto de normas ou princípios de ordem moral ou deveres, que disciplinam ou orientam o comportamento humano para o bem. Durante boa parte da existência humana, a regra de ouro da reciprocidade, formulada entre os anos 600 a 0 a.c, por filósofos e religiosos, apontava no Talmude “o que for odioso para ti, não faça ao teu próximo”. No cristianismo, esse princípio ganhou abrangência ainda maior “amarás o teu próximo como a ti mesmo.” A Ética sempre foi calcada na essência do dever, como no hinduísmo “não faça aos outros o que se for feito a ti, te causará dor”. A seleção natural diz que estratégias vencedoras serão selecionadas, mesmo ante a ignorância dos genes, inconscientes, embora movidos a egoísmo. Roger Scruton, em seu livro A Natureza Humana, discute a racionalidade como um atributo adaptativo, sendo parte da essência humana. Não consegue no entanto deduzir sobre as causas da conduta ou pensamento moral e seus fundamentos, se originados da constituição biológica ou do pensamento racional. O certo é que para ele somos seres Morais, conscientes do certo ou errado e qualquer avaliação da vida moral passa pelo fato de sermos indivíduos livres e ao mesmo tempo membros da comunidade da qual depende nossa realização. Theodore Dalrymple, em Nossa Cultura ou O Que Restou Dela, retrata nosso tempo abraçado à barbárie, onde quebrar normas, transgredir preceitos se tornou sinônimo de não convencional, com sentido positivo. O resultado, aponta ele, “é uma imundície moral, espiritual e emocional, com prazeres passageiros e sofrimentos prolongados”. Para que um comportamento afrontoso e irresponsável se estabeleça não é suficiente acreditar que ele é economicamente viável, mas também que ele é moralmente admissível. É sinal dos tempos modernos a crença de que o homem é dotado de direitos ilimitados, sem correspondentes deveres, e a ninguém deveriam ser cobradas responsabilidades ou consequências de seus comportamentos. A adoção da apalermada visão romântica e sentimental da vida humana, com a perda dos limites entre o permissível e o ilícito, tende a ver facínoras, infratores, desajustados e irresponsáveis como vítimas do modelo econômico e da injustiça social. Violência, assassinatos, estupro, crueldade, tráfico de drogas, abortamentos, crianças abandonadas, exploração e abandono de idosos, o mal em toda sua exuberância, não enfrenta combate adequado do Estado, tolhido pela covardia moral da elite intelectual e política. O libertinismo cresce à sombra de legislações pródigas em direitos, a Constituição Brasileira, informa Roberto Campos, tem 76 vezes a palavra direito e apenas 4 vezes a palavra dever. O manto da tolerância que dissimula o crime transforma o transgressor em vítima, como efeito do emocionalismo político, corruptor da ética. Com a mudança da sociedade alguns valores podem mudar, mas palavras como fundamentalismo ou intolerância são joguetes nas mãos dos que buscam empurrar uma ética nova para questões ainda indefinidas. Há consequências na substituição da ética e da moral por preferências individuais. Desonestidade, falta de respeito, promiscuidade sexual, violência, suicídio tem afetado essa geração porque as crenças fundamentais sobre moralidade e verdade foram minadas, diz Josh MacDowell. Ayn Rand escreveu: “uma sociedade que estabelece um conflito entre seus decretos e as exigências da natureza humana, destrói todos os valores da coexistência e representa não uma fonte de benefícios, mas a ameaça mais mortal à sobrevivência do homem”.

 

 

Publicado no Jornal Agora RN dia 26/05/2021

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