Aparatos ideológicos

13/05/2022

Aparatos ideológicos

13/05/2022

Aparatos ideológicos

Aristóteles, que preferia a Aristocracia, por ser o governo dos melhores, alertava que a democracia sempre se encaminhava para um impasse, a democracia radical, onde todos os cidadãos teriam os mesmos direitos e cargos políticos seria de certa forma bom, mas essa forma de democracia seria na verdade uma demagogia, pois a cidade seria direcionada pelas massas e não pelo bem da polis. Ele dizia que isso poderia levar a uma tirania da maioria. A democracia contemporânea, de alguma forma, já o é. Mathieu Bock-Côté, em O Império do Politicamente Correto, escreve “ o politicamente correto é um dispositivo inibidor, cuja vocação é sufocar, reprimir e demonizar qualquer crítica” aos seus dogmas e “excluir do espaço público qualquer um que se atreva a transgredir essa proibição”, o famoso cancelamento.  Reclama para si o monopólio do bem e vai além, classificando de doença mental, fobia, qualquer resistência ao seu pensamento. É a psiquiatrização da dissidência. O ceticismo é desprezado, e até o silêncio é suspeito. Todos tem que ser anti e se manifestar. A sociedade está sendo condenada a viver numa realidade substitutiva, criada pela mídia. “E quando o real aparece, tenaz, obstinado e indelével” a resposta é: “não aceitamos o real.” No entanto, ele não é um discurso nem uma construção mental. O politicamente correto e o identitarismo são o marxismo em vestes novas. Por trás, o sonho revolucionário de apagar todo passado histórico-cultural para, imaginando o mundo como uma página em branco, escreverem as narrativas que julgarem convenientes. Foi a sacralização do marxismo que, embora repleto de falhas e dos desastres práticos de onde se instalou, fez com que os filósofos da chamada nova esquerda o reinventassem, mantendo-o vivo. Sempre que o Marxismo, traído pela não conformidade com a história, ameaça ruir, vem em seu socorro teorias e pensadores auxiliares a abrir, no dizer de Roger Scruton, “o Baú de encantamentos a ressuscitar a ideologia.” O entusiasmo esquerdista arrebatou as instituições de ensino nos anos 60. Acadêmicos e estudantes enlouqueceram com fantasias de libertação, afastando-se das disciplinas tradicionais e criando novos dogmas, além da matéria-prima do conhecimento. Os intelectuais e estudantes assumiram nessa forma teatral o papel de membros honorários da classe trabalhadora, enquanto ela própria desaparecia como força revolucionária. O pensador francês, Louis Althusser, discípulo de Gramsci, descreveu então as instâncias da sociedade como Igreja, Família, Sindicatos, Imprensa, Justiça e Escola como aparelhos ideológicos, encarregados de Controlar o indivíduo e conformá-lo com a ideologia burguesa. Controlar os aparatos ideológicos do Estado que reproduzem a ideologia burguesa, colocar esses aparatos ideológicos e repressivos a serviço da classe revolucionária é o trabalho a ser desenvolvido pelo intelectual, que atua como força motora da história. O materialismo histórico é a ciência que deve questionar todas as ciências para libertá-las de seu resíduo ideológico. Toda mudança, parece, é o resultado de contradições que emergem das variadas estruturas da sociedade. Estas contradições podem aparecer como luta de classes, ou como confrontações intelectuais e ideológicas. A contradição geral ou principal é a identificada por Marx o conflito entre as forças e as relações de produção. A filosofia marxista nega a categoria idealista de sujeito como origem. Para Althusser o principal aparato ideológico é a “Escola, onde deve se concentrar o esforço revolucionário, contaminando-a por dentro para solapar a ideologia dominante e conquistar o poder.” A Escola passa a ser assim um aparelho de doutrinação e propaganda revolucionária. Althusser reforça o Marxismo, mostrando o poder da estrutura econômica sobre as não econômicas, sendo precondição para a compreensão da mudança das estruturas. Mas Engels já admitira que só em última instância o fator econômico determina o progresso social, e isso foi visto pelo próprio Marx na lei do desenvolvimento desigual. Para Roger Scruton as transformações tem causas políticas (relativa autonomia) e as estruturas econômicas podem ser geradas por escolhas políticas (ação recíproca), isso permite que o pensamento humano e as intenções sejam as causas primárias da mudança histórica.

Dr. Geraldo Ferreira – Médico e Presidente do Sinmed RN

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